Coaching não é Psicoterapia - é bom não confundir
O coaching é uma atividade de formação pessoal em que um instrutor (coach) ajuda o seu cliente (coachee) a evoluir em alguma área específica da sua vida. Pode contribuir para processos de redefinição de carreira ou para aprimorar a percepção de uma área da vida, como por exemplo, a área financeira, corporal, de organização, de liderança, entre outras. Nasceu no ambiente corporativo com a ideia de cuidar de executivos em crise por problemas de carreira e com pressões excessivas no seu cotidiano.
Wood (2001) destaca que em um mundo cada vez mais complexo as pessoas lutam para manter uma aparência de controle e domínio sobre as situações da sua vida. Essa ideia está relacionada com a ideologia do sucesso do mercado atual, que, segundo Pagès (1993) e Enriquez (1997a), preconiza que não há espaço para o fracasso. A busca pelo sucesso, controle e domínio e o medo do fracasso podem ser motivadores exponenciais para o coaching. Isso explica a crescente demanda dessa especificidade profissional. Pode ser animador encontrar alguém que prometa ajuda na conquista do controle pessoal, das finanças, da organização doméstica, da alimentação, da carreira etc. As expectativas colocadas muitas vezes geram esperanças de que a realização pessoal e a sensação de bem estar finalmente estarão ao alcance.
No entanto, é importante destacar que conquistar sucesso, controle e domínio em alguma área da vida não é garantia de saúde mental. Uma pressão exagerada pelo sucesso pode inclusive adoecer. Por isso, o coaching não é a intervenção indicada para tratar de problemas que envolvem a saúde mental. Sinaliza-se até mesmo certo cuidado, podendo-se, inclusive, correr o risco de evocar situações, sentimentos, percepções e sensações que poderão desestruturar psiquicamente e caso não houver um encaminhamento adequado poderá comprometer a saúde psíquica. O profissional do coaching não recebe qualificação em sua formação para fazer intervenções psicológicas, caso fizer estará exercendo sua profissão ilegalmente.
Já a psicoterapia é um tipo de terapia cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade, compulsões, obsessões, traumas (de toda ordem), dificuldades de relacionamento, reestruturação de visão de mundo, retomada do sentido da vida, entre outros problemas que envolvem a saúde mental. É um processo dialético efetuado entre um profissional, o psicoterapeuta e o cliente, ou paciente. O profissional da psicoterapia tem que ser um psicólogo ou psiquiatra (no caso do psiquiatra somente poderá atuar como psicoterapeuta se tiver uma especialização em psicoterapia. Observação: nem todos os psiquiatras têm essa qualificação).
O espaço terapêutico, lugar de atuação do psicoterapeuta, é um lugar para ser inteiro. Assim se faz pela confiabilidade estabelecida no sigilo ético, pela expertise profissional na intervenção terapêutica, na habilidade de uma escuta diferenciada, no acolhimento imparcial, na capacidade empática, na percepção e construção de processos viabilizadores da saúde integral e qualidade de vida. Contrapondo ao “inteiro” encontra-se o “fragmentado” gerando angústias, contradições, desconexões, desamores, dissabores, boicotes, desordens psíquicas, físicas, relacionais e espirituais. Importar-se com o “inteiro” é voltar-se para o ser em sua integralidade. Buscar por um espaço assim pode ser um ato de coragem, pois para ser “inteiro” é preciso certa bravura para enfrentar as repetições do mesmo que insistem em fazer sofrer, que lhe mantém refém, no presente, às vivências passadas ou às expectativas futuras, instaurando auto boicotes e/ou ganhos secundários nas subjugações relacionais disfuncionais.
REFERÊNCIAS
ENRIQUEZ, E. A Organização em análise. Petrópolis: Vozes, 1997a.
PAGÈS, M. et al. O poder das organizações: a dominação das multinacionais sobre os indivíduos. São Paulo: Atlas, 1993.
WOOD JR, T. Organizações espetaculares. Rio de janeiro: FGV, 2001.