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O ELO DO AMOR - A CONEXÃO COM O PARCEIRO REAL!


A paixão é atração, o amor é ligação.

A paixão é temporária, o amor é permanência.

A paixão é interesse, o amor é doação.

A paixão é o encontro de corpos, o amor é o encontro de almas.


“... se não tiver amor, nada serei.” (I Coríntios 13.2)


O amor é uma conexão sublime entre duas pessoas. É diferente da paixão.


A paixão é atração temporária cheio de interesse. O amor é doação altruísta que permanece.


Na paixão se é feliz pelo que o outro tem a oferecer. No amor se é feliz pelo que se oferece ao outro.


Na caminhada conjugal o amor é o “elo”, a ligação entre duas pessoas, que solidifica a permanência, a continuação, a constância, a estabilidade.


O amor é doação, acolhimento e aceitação que promove o encontro, onde duas pessoas podem ser inteiras, com a alma aberta, sem reservas e sem segredos.


O amor não se compra em mercado, feira, farmácia, shopping, cruzeiros, nem nas baladas da noite.


O amor não se ganha dos padrinhos no dia do casamento e não se tem garantias dele pela pompa da festa, da boa música, das vestimentas, das comidas/bebidas, pelo tamanho do bolo, pela presença da família, dos belos amigos e pelo cerimonial espiritual e emocionante conduzido por algum ministro carismático. Nem mesmo a assinatura na certidão de casamento, os votos, as juras de amor e o anel no dedo são garantias do amor conjugal (apesar da sua importância como rito de passagem, em que se comunica socialmente que se migrou do status de solteiro para o de casado).


O amor se constrói gradativamente e continuamente na convivência.


Muitas vezes confundimos paixão com amor e é bem comum se acreditar que o amor acabou, quando, de fato, o que acabou foi a paixão. É certo que a paixão se extinguirá, mas, isso não significa que o amor acabou. Ao confundir paixão com amor, um casal pode pensar que o relacionamento também acabou. Porque acredita-se culturalmente que sem amor não dá pra continuar juntos. Por isso, muitos casais se separam, começam a história com outras pessoas. Apaixonam-se novamente por outra pessoa, mas, como em todos os relacionamentos apaixonados, a paixão no relacionamento novo também acabará. E assim desistem desse também. E assim segue-se trocando de pessoa a cada ciclo de paixão que termina. Pessoas assim jamais experimentarão o amor conjugal, pois desistem mesmo antes dele nascer.


Na verdade, a paixão realmente precisa se acalmar para dar lugar ao amor.


Ao adentrarem no matrimônio, os apaixonados partem para uma aventura a dois que poderá lhes enriquecer, se as experiências contribuírem para que cresçam e amadureçam juntos. Nessa trajetória os cônjuges terão, no dia-a-dia, inúmeras oportunidades de se conhecerem, em que vão revelando seu jeito de ser, sentir e pensar. No entanto, também ocorre o risco de se cansarem na caminhada, de se estranharem a tal ponto que o desconforto os empurre para uma desconexão conjugal. Porém se os cônjuges aceitarem o desafio de seguirem crescendo juntos poderão descobrir e experimentar o verdadeiro sentido do amor e de sua união.


Os casamentos que permitem que cada parceiro possa crescer e amadurecer como pessoa são casamentos mais propensos a durar e com qualidade. São casamentos em que os envolvidos não se desconectem de si mesmos pelo caminho. Não significa um dos cônjuges abandonar-se em prol do ser e desejar do outro. Mas, é um casamento em que ambos têm espaço para ser, desejar e crescer.


No entanto, o crescimento dos cônjuges não ocorre num individualismo ou distanciamento do outro. Dá-se numa parceria com o outro, mas também e, especialmente, num confronto com o lado destrutivo do outro, bem como de si próprio. Nesse sentido, o sofrimento é inevitável para a caminhada da maturidade, em que se constrói o sentido de ser pessoa. O casamento deveria ser uma importante via para o crescimento, na medida em que ocorre um encontro dialético entre dois parceiros durante toda sua vida conjunta, até a morte. Nessa trajetória ocorre um descobrimento da alma, em que ocorre uma abertura ao outro e para si mesmo.


Segundo Guggenbühl-Graig [1] somente no friccionar as próprias feridas e se perdendo se é capaz de aprender sobre si mesmo, Deus e o mundo. Dessa forma, o casamento como via de amadurecimento pode até ser doloroso, mas também, além das dificuldades, se experimenta uma profunda satisfação existencial, a qual fortalece a convicção de que faz sentido avançar juntos como casal. Nessa dimensão relacional é possível crescer na percepção do outro real. O parceiro idealizado passa a dar lugar para o parceiro real, que passa a ser aceito e admirado pelo que é.


O sentimento amor brota com força e assume o lugar do sentimento paixão. Ocorre uma conexão com a pessoa real com quem se casou. Esse sentimento é incomparavelmente superior ao das projeções e idealizações inconscientes do estado da paixão. A atração agora é pelo parceiro real e não mais pelo parceiro idealizado. O outro se apresenta irresistível pelo que de fato é e não mais pelo que projeto sobre ele em minhas expectativas fantasiosas. Porém, a experiência desse sentimento é apenas para os nobres e corajosos que assumem a responsabilidade na construção do amor conjugal.



Matthey Kelly [2] nos lembra em seu livro “Os sete níveis da intimidade” que amar é um verbo, que o sentimento amor, é fruto do verbo amar e que podemos escolher amar, ouvir, entender, valorizar e servir a quem amamos. Perceba isso nessa linda ilustração que o autor descreve a seguir.


David Anderson morava em Boston com a mulher, Sarah, e os três filhos – Rachel, Shannon e Jonah. A casa de veraneio da família, em Martha’sVineyard, era um sinal do sucesso de David. Sarah e as crianças passavam lá o verão e David em geral ia nos fins de semana e durante a primeira quinzena de julho.


Certo verão, há alguns anos, ele fez uma promessa a si mesmo enquanto dirigia o carro em direção à praia. Durante duas semanas, seria um marido e um pai carinhoso e atencioso. Estaria inteiramente disponível. Desligaria o celular, resistiria à tentação de checar constantemente seu correio eletrônico e se entregaria de corpo e alma à família.


O problema era que David trabalhava demais e sabia disso. Todos à sua volta sabiam. Amar demasiadamente o trabalho é um risco. Fazer sua identidade depender do trabalho acaba sendo uma armadilha. De vez em quando, David se sentia culpado, mas alegava que aquilo era necessário para poder proporcionar à sua mulher e aos filhos muitos privilégios e oportunidades.


Essas racionalizações funcionavam temporariamente. Mas aquelas férias seriam diferentes. David decidiu ser atencioso e disponível. A ideia havia lhe ocorrido no carro, enquanto escutava um CD que um amigo lhe dera. Os livros e fitas que ganhava de presente se acumulavam, deixando David aflito. Mas, por algum motivo, ele colocou o CD enquanto saía da garagem naquele dia. O narrador falava de relacionamentos felizes, e David estava prestes a desligar quando algo chamou sua atenção: “O amor é uma escolha. O amor é um ato de vontade. Você pode escolher amar.”


Por alguma razão, aquelas palavras causaram um impacto em David. Ele teve que admitir que o amor entre ele e Sarah vinha sendo prejudicado por seu egoísmo, por sua insensibilidade, por sua falta de disponibilidade. Esses egoísmo se manifestava sobretudo em pequenas coisas. Quando assistiam à TV, era ele quem escolhia o programa. Fazia Sarah se sentir mal quando ela se atrasava, culpava-a quando as coisas não saiam exatamente como ele queria. Punha constantemente o trabalho acima dos interesses da família. Levava os jornais para o escritório, mesmo sabendo que Sarah desejava lê-los e que provavelmente ele não encontraria tempo durante seu dia atarefado para sequer folheá-los. Estava sempre dizendo para os filhos “Mais tarde”, e para a mulher “Agora não”.


Tomou uma decisão: durante duas semanas tudo aquilo iria mudar. E mudou mesmo.

Ao entrar na casa de praia, David beijou Sarah e disse:

– Você está linda com esse suéter novo. Senti saudade.

Ela chegou a levar um susto e ficou até intrigada. Sua primeira reação foi achar que ele a estava censurando por ter comprado mais roupas. Mas, quando David passou o braço em seus ombros e sorriu, Sarah ficou inundada por uma sensação maravilhosa.


Depois de enfrentar o tráfego na estrada, tudo o que David queria era sentar e relaxar, mas Sarah sugeriu uma caminhada pela praia. Ele começou a recusar, mas logo mudou de ideia, pensando que a mulher queria fica sozinha com ele. Passearam de mãos dadas, enquanto as crianças soltavam pipas.


Na manhã seguinte, Sarah quase caiu da cama quando ele lhe trouxe o café da manhã. Enquanto ela comia, ele lhe contou um sonho que tivera durante a noite e em seguida perguntou:

– O que você quer fazer hoje?

Sarah era incapaz de se lembrar da última vez que escutara essa pergunta.

– Você não tem que trabalhar? – indagou espantada.

– Não – respondeu David. – Podemos fazer o que você tiver vontade.


Durante o dia inteiro, David repetiu mil vezes para si mesmo: “O amor é uma escolha. O amor é uma escolha. O amor é uma escolha.”

E assim continuou. Durante duas semanas, eles relaxaram e curtiram a vida. Foram férias perfeitas. Duas semanas sem a interferência constante do celular e dos e-mails.

– Papai ganhou na loteria? – perguntou Shannon à mãe certo dia. Sarah riu, mas ela própria estava intrigada com o que estava acontecendo.


No último dia, David foi andar sozinho na praia. Pensou na promessa que havia feito a si mesmo no carro, duas semanas antes, e renovou o compromisso de continuar a escolher o amor quando voltassem para casa.


Naquela noite, quando ele e Sarah estavam se preparando para dormir, ela parou de repente e perguntou, com uma expressão ansiosa no rosto:

– Sabe aquele check-up que eu fiz há algumas semanas? O Dr. Lewis falou alguma coisa sobre ele? Você sabe de alguma coisa que eu não sei? Dave, você tem sido tão legal comigo? Eu vou morrer?

Os olhos de David se encheram de lágrimas. Tomando-a nos braços e segurando-a com força, ele afirmou:

– Não, amor. Você não vai morrer. Eu é que estou começando a viver!


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NOTAS


[1] GUGGENBÜHL-GRAIG, Adolf. O casamento está Morto, Viva o Casamento. São Paulo: Edições Símbolo, 1980.

[2] KELLY, Matthew. Você sabe de alguma coisa que eu não sei? In: KELLY, Matthew. Os Sete Níveis da Intimidade: a arte de amar e a alegria de ser amado. Rio de Janeiro: Sextante, 2007, p. 9-11.


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