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HONRA AOS NOSSOS PAIS!


O valor de nobreza contido na honra infere que é uma das posturas mais elevadas que se pode assumir como conduta e uma nobre maneira de se expressar para alguém que consideramos importante.


Honrar aos pais envolve adotar um princípio de conduta pessoal de dignidade, numa postura que doa respeito, amor, perdão, consideração e reconhecimento pela posição importante de pais que eles ocupam.


As Escrituras destacam a honra como uma postura requerida dos filhos em relação aos seus pais. “Honra teu pai e tua mãe” - este é o primeiro mandamento com promessa – “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra" (Efésios 6.2-3).


Honrar aos pais é um princípio estabelecido para todos nós, quer sejamos bebês, crianças, adolescentes ou adultos. No entanto, a forma como expressamos a honra aos nossos pais vai se diferenciando ao longo do desenvolvimento do ciclo da vida familiar. Quando essas diferenciações não acontecem, as relações familiares poderão ficar comprometidas. Isso acontece com maior frequência do que podemos perceber e nem sempre a expressão da honra ocorre adequadamente de acordo com a idade cronológica que temos. Por exemplo, é possível ter idade de adulto e ainda apresentar uma postura infantil ou adolescente de honra aos pais. Para entendermos melhor esse aspecto avaliaremos na sequência possíveis posturas de honra expressas pelos filhos aos pais duranteo ciclo da vida familiar. (Carter e McGoldrick, 1995)*.



Postura de honra de um bebê: VENERAÇÃO


Nos primeiros meses a criança pequena tem absoluta veneração por seus pais, especialmente por sua mãe. O relacionamento mãe e bebê, geralmente, é simbiótico e fusionado. Para o bebê a sua mãe é sua alma, seu fôlego, seu ar, sua água e sua comida. Ela é uma espécie de deusa, uma divindade, a qual o filho bebê venera de tal forma que não quer se desconectar dela nem por um minuto. Ele depende totalmente dela. Os olhos brilham quando sua mãe se aproxima e quando se distancia se sente inseguro e abandonado.


Nesse momento da vida essa postura de honra é perfeitamente aceitável. No entanto, seria estranho se ainda aos sete ou oito anos de idade a criança ainda honrasse a sua mãe dessa forma. Pior ainda se aos treze, quinze, vinte anos ou mais, a postura de honra ainda se apresentasse nessa simbiose e veneração absoluta.


Para que o filho saia dessa postura é preciso, que na interação com o ambiente, ele aprenda a se inserir no mundo como sujeito diferenciado da mãe, ou seja, ele não é um com a mãe. Muitas vezes esse processo se estende por um tempo maior, porque a própria mãe contribui para esticar essa dependência por mais tempo. Pois ter um bebê é uma experiência fantástica. Receber essa honra pela via da veneração absoluta de seu bebê, uma admiração e um olhar que se encanta cada vez que você se aproxima, é algo que dificilmente se obtém de outra pessoa. Dependendo da autoestima e das carências da mãe esse fusionamento mãe/bebê pode se estender de forma inadequada por muito mais tempo do que deveria.



Postura de honra na infância: OBEDIÊNCIA


Obedecer aos pais é submeter-se ao estabelecido por eles confiando que eles são mais maduros e por isso sabem muito mais da vida. Pelo menos é o que se espera dos pais. Também são eles os adultos da casa, o que os torna responsáveis pelo funcionamento adequado do ambiente familiar. Que haja afeto, mas também limites coerentes e consistentes. Um equilíbrio entre afeto e limites gera segurança e facilita a expressão da obediência saudável. Uma obediência não cega, mas inteligente e que favorece a sensação de estar seguro ao seguir seus pais nessa fase da vida.


Para as crianças os pais são seus grandes heróis. Infelizmente, os pais heróis da atualidade andam um tanto quanto cansados e estressados, o que os leva, muitas vezes, a serem anti-heróis. Somando a isso uma fraca habilidade no exercício parental, surgem filhos agitados, manipuladores e controladores do ambiente familiar. O que dificulta as posturas de honra dos filhos por meio da obediência. Acaba se instalando uma troca de papéis em que, no lugar dos filhos mostrarem posturas de honra obedecendo aos seus pais, são os pais que honram seus filhos lhes obedecendo. Filhos entregues a si mesmos podem se tornar muito agitados e transformarem um lar num ambiente caótico. Isso acontece porque uma criança ainda é muito imatura para sozinha estabelecer o controle de seus impulsos. Poderia aprender a controlá-los com a ajuda de pais responsáveis e coerentes.


Os pais são os educadores de seus filhos, o que inclui o ensinamento da honra aos filhos expressa por meio da obediência. Se eles não assumirem essa tarefa é muito provável que ninguém mais assuma.



Postura de honra na adolescência: QUESTIONAMENTOS (fidelidade x infidelidade)


Na adolescência acontece o fenômeno da definição da identidade. Por isso, os padrões de comportamento, as atitudes, os ideais, as ideologias, bem como as crenças e os mitos familiares aprendidos com os pais serão testados. É uma espécie de avaliação dos valores e padrões percebidos até aqui para ver se são consistentes o bastante para serem assumidos como seus ou não.


Nessa fase ocorre um conflito entre fidelidade e infidelidade aos pais e seus ditames. Ao longo da fase adolescente os filhos farão gradativamente inúmeros ensaios para sua independência. Esses ensaios são mobilizações para o “deixar pai e mãe”, que são extremamente importantes para que os filhos sigam seu caminho, diferenciados dos pais.


No entanto, pais e mães que insistem que seus filhos continuem lhes dando honra como se fossem seus bebês (que a cada vez que surgirem diante deles seus olhos brilhem e um enorme sorriso se abra em seu rosto) ou que lhes continuem admirando como os heróis que solucionam todas as situações adversas, estão trabalhando na contramão da independência de seu filho. Então, talvez seja preciso ser “infiel” a essa fusão e infantilização esperada dos pais para que consiga sair desse lugar de dependência infantilizada. Essa “infidelidade” vai se estabelecendo por meio de posturas mau humoradas, ou seja, ao invés de ter um “bebê lhe venerando” ou uma “criança lhe vendo como herói” terá um “adolescente marrento” que não esboça qualquer sinal de bem-estar por estar em sua companhia. Aliás, se antes via os pais como heróis, agora os vê como pessoas mal adaptadas, que precisam se reciclar, que estão desatualizadas e que precisam evoluir. Chegam a achar que os pais não estão com nada, que não entendem nada do que eles estão passando.


Dessa forma, se instalam sérios conflitos entre pais e filhos. O fato é que os filhos precisam se diferenciar dos pais para definirem sua identidade. No entanto, esse movimento pode ser sentido pelos pais como se fosse uma espécie de traição. Temos então um problema, pois ninguém gosta de ser considerado um “traidor”, muito menos pelos pais. Por isso, geralmente, os filhos avançam para a idade adulta com uma “fidelidade” aos padrões dos pais de forma impressionante. Acabam assumindo boa parte daquilo que foi postulado pelos pais para eles como se fosse um mandato a ser cumprido. Ocupam-se dessa tarefa com muita “fidelidade”, geralmente de forma inconsciente, num alto investimento de energia psíquica.


Ao invés de perceberem os questionamentos de seus valores por parte de seus filhos como ameaças, os pais sábios compreendem que estão questionando para poderem crescer e lhes ajudarão nisso. Adolescentes que não questionam nada podem ainda estar presos a um estágio infantil de honra aos pais.



Postura de honra na vida adulta: PERDÃO, RESPEITO, AMOR E CONSIDERAÇÃO


Chegamos à vida adulta muito “fiéis” ao padrão de nossos pais, mais até do que imaginamos ou gostamos de admitir. A tal ponto que, mesmo sem nos darmos conta, vamos assumindo formas de ser e agir, em nossa vida adulta, conforme o modelo de nossos pais. Se fosse apenas o lado funcional seria ótimo, no entanto, geralmente é a parte disfuncional que mais sobressai.


Os filhos tendem a seguir o caminho sinalizado pelos pais, conforme Provérbios 22.6 “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, quando for velho, não se desviará dele”. A “fidelidade” às palavras ditas pelos pais aos filhos, por exemplo, podem gerar muitos desconfortos familiares. Imagine que um filho aceite o que seu pai, ou mãe, lhe diz sobre ele e siga suas “profecias malditas” como mandatos a serem cumpridos. Por exemplo: “Você só me dá tristeza e preocupação”; “Você é um irresponsável”; “Você não presta”; “Não gosto mais de você”; “Ninguém gosta de você”; “Deus não gosta mais de você”; “Você vai para o inferno”; “Você não serve pra nada”; “Você só dá despesa”; “Você não faz nada direito”; “Você é burro”; “Você é um desajeitado”; “Você é feio”; “Você não vai dar nada na vida”; e assim por diante.


O que você acha que acontecerá se um filho for fiel e obediente a essas palavras? Quem sabe poderá mesmo “ser ninguém na vida”. Temos, então, aquela pessoa com trinta/quarenta anos que continua presa a honra da fase infantil e segue fiel e obediente ao que ouviu de seus pais e realmente “não dá certo na vida”. Diante disso o pai, ou a mãe, que proferiu a dita maldição de que ele “não daria nada na vida”, ainda assume uma postura arrogante e diz “eu já sabia que ia ser assim, eu já via que não ia dar nada na vida quando ele ainda era criança”. Não consegue perceber que fez parte do processo na construção do filho em “ser ninguém na vida”. O filho acreditou fielmente ao que o pai/mãe falou para ele. Portanto, para ser “fiel” ao pai/mãe deve seguir “sendo ninguém na vida”. O único jeito de fazer diferente é ser “infiel” a percepção que o pai ou a mãe tem dele. No entanto, ser um “traidor” pode gerar culpas pesadas e talvez seja melhor assumir o lugar que seu pai/mãe lhe deu. Infelizmente congela seu potencial.


Dentre algumas formas infantilizadas de honrar aos pais na vida adulta poderíamos listar:

  • Manter o vínculo com os pais como o mais significativo, mesmo se estando casado.

  • “Não deixar pai e mãe” seguindo dependente deles na vida adulta:

  • Afetivamente (numa autonomia moral empobrecida em que não consegue assumir as próprias escolhas e responsabilizar-se por suas consequências).

  • Financeiramente (o orçamento dependendo constantemente do reforço dos pais, quando não o subsídio completo, para dar conta das responsabilidades financeiras).

  • Repetir o padrão da dinâmica relacional de seus pais.

  • Educar os filhos com os mesmos padrões dos pais.

  • Entre outros.


Os filhos, na definição de sua identidade poderão estabelecer uma honra e “fidelidade” aos pais assumindo posturas relacionais muito parecidas com as posturas de seus pais. Isso se evidencia na forma de se relacionar com seu cônjuge, seus filhos e também em como interage com sua rede social, incluindo os amigos e colegas de trabalho.


Para entrar para o mundo adulto é preciso passar pelo processo de “deixar pai e mãe”, ou seja, é preciso estabelecer uma relação com os pais de igualdade, de adulto para adulto. Essa é a mais alta honra que se pode dar aos pais na vida adulta. É o mesmo que dizer a eles: “muito obrigado(a), vocês fizeram um excelente trabalho, me tornei uma pessoa capaz de me auto gerenciar financeiramente e afetivamente. Agora posso absolver (liberar) vocês da tarefa da responsabilidade de me cuidar, orientar, educar etc. Sigo como adulto honrando vocês pelo que fizeram ao me educar para ser autônomo e responsável diante das minhas escolhas e posturas. Vocês podem se deliciar com o resultado de seu empenho de pais em todos os anos que fui criança e adolescente. Sei que não foram perfeitos e perdoo aquilo que não foi tão bem. E mesmo que eu escolha fazer algo diferente de vocês, seguirei grato, amando, respeitando e considerando vocês como meus pais preciosos. Lugar que terão em meu coração para sempre”. Dessa forma, a honra na vida adulta se apresenta funcional e se distancia da fase infantil e adolescente.


A honra aos pais na vida adulta não se dá mais pela sua função de cuidar e educar, que exige a obediência dos filhos como se ainda fossem crianças imaturas e incapacitadas do cuidado pleno de si, mas se configura por meio do amor, perdão, respeito e consideração pela posição e referência de pais que têm e que permanecerá para sempre. Por isso, é importante lembrar que a função parental de cuidado tem prazo de validade e deve ser reconfigurada quando os filhos chegam à vida adulta. Ao mesmo tempo em que os filhos assumem o cuidado de suas vidas e liberam os pais dessa tarefa, os pais também devem abrir mão dessa tarefa. Os filhos adultos devem ter autonomia para escolher e decidir como organizar suas vidas e assumir a responsabilidade por suas escolhas e decisões. Os pais que fizeram um bom trabalho assistirão essa independência e poderão saborear essa nova fase da vida com alegria.


Honrar aos pais na vida adulta significa respeitar a sua vivência, as suas experiências e a sua posição. Isso envolve também levar em consideração a sua idade e as suas limitações. O envelhecimento dos pais traz a eles limitações tanto físicas como mentais, o que interfere na forma de acompanhar as mudanças do mundo tanto no tempo como no espaço. Os filhos adultos assumem posturas de honra ao demonstrarem respeito e consideração por eles. Dessa forma, também estarão aptos para cuidarem e ampararem seus pais ao chegarem à velhice, lhes assegurando um fechamento do ciclo da vida com dignidade.



Algumas considerações para finalizar


Somos todos filhos (as) e para seguirmos como adultos precisamos levar as bênçãos de nossa casa materno/paterna, mas é preciso também desvincular-se das maldições.


Devemos ser gratos pelo que recebemos e que nos construiu como pessoas, ao mesmo tempo em que precisamos perdoar aquilo que nos traumatizou e que mantém nossas emoções congeladas no tempo ou intoxicadas prejudicando o desenvolvimento do nosso potencial. Caso contrário é possível que em cada situação atual se atualizem nossas emoções infantis não resolvidas.


Geralmente o retrato de pai e mãe nos mostra uma figura envolta de sabedoria, inteligência, equilíbrio, amor, carinho, cuidado, abnegação, responsabilidade etc. Muitas vezes é assim, mas nem sempre. Pais e mães são humanos e como tais por vezes são inseguros, ríspidos, insensatos, impacientes etc. Não há pai e mãe perfeitos, todos erram.


Por melhor que tenha sido a convivência com nossos pais alguma lacuna vai ficar. A vida virá com novos desafios para novos aprendizados. É preciso compreender que os pais não são os únicos responsáveis por todas as mazelas da vida. Da mesma forma também não são os únicos responsáveis por todas as alegrias e sucessos da vida.


Para podermos honrar e seguir é preciso perdoar. Caso contrário é possível ficarmos reféns das expectativas de cuidado não atendidas por nossos pais/mães. Apenas transferimos essas expectativas para novas pessoas, que podem ser o cônjuge, os filhos, os amigos.


É importante lembrar que no decorrer do desenvolvimento não somos meros expectadores e receptáculos do que nossos pais nos dizem ou fazem, pois assumimos também um papel atuante em contínua interação com os pais e também com outras pessoas nos diversos contextos nos quais crescemos, ou seja, somos participantes do processo.


Essa participação nos chama à responsabilidade diante dos desafios que a vida nos apresenta. Mesmo que tenham sido vivenciadas situações traumáticas em alguma fase da vida em que não havia força, nem autonomia para mudar os impasses negativos e que suas consequências ainda são sentidas intensamente na fase atual, isso não significa uma determinação de fracasso até o fim da vida.


Apesar de não podermos mudar em nada o nosso passado e nem desfazer os males que nos foram imputados na infância, ou em qualquer outra fase da vida, podemos mudar assumindo novas posturas, “consertar” e reconquistar a integridade perdida a partir do tempo atual que estamos vivendo (Miller, 1997)**. Podemos conviver harmoniosamente com nossa história e caminharmos amadurecendo na medida em que avançamos.


Deus está interessado que isso aconteça em nossas vidas. Ele nos criou para o louvor da sua glória. Situações que nos congelaram e impediram de sermos livres para sermos o que Deus tinha intencionado para nós não precisam condicionar o restante de nossas vidas. A boa notícia é que o nosso desenvolvimento não acaba aos sete anos de idade, mas segue acontecendo até o fim da vida. Isso significa que podemos aprender e mudar em qualquer época da vida.


Quem sabe, seja difícil para você honrar seus pais. Talvez eles tiveram, ou ainda têm, posturas tolas e insensatas e nem mereçam honra. Conforme menciona o sábio Salomão, há pessoas que não são dignas de honra. “Como neve no verão ou chuva na colheita, assim a honra é imprópria para o tolo” (Provérbios 26.1). “Como amarrar uma pedra na atiradeira, assim é prestar honra ao insensato” (Provérbios 26.8). No entanto, isso não anula a honra requerida aos filhos em relação aos seus pais, pois o princípio está atrelado a uma vida bem sucedida e longa sobre a terra. "Honra teu pai e tua mãe" - este é o primeiro mandamento com promessa – “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra". (Efésios 6.2-3).


Um Desafio


Você pode ver seus pais com novos olhos e da mesma forma a si mesmo. Talvez precise de cura. Experimente perdoar. Procure perdoar aquela palavra maldita, aquele gesto autoritário ou demasiadamente permissivo, a negligência, os maus tratos, a falta de afeto e até mesmo os afetos inadequados. Seja o que for... Perdoe e liberte-se de ser refém e “fiel” a esses mandatos malditos e siga livre o seu caminho. Isso poderá lhe libertar para honrar seus pais de uma forma mais saudável ao longo de sua vida. Caso precisar não hesite em procurar por ajuda.


Que todos nós, filhos de nossos pais que somos, sejam eles sábios ou insensatos, os honremos adequadamente e tenhamos sucesso na vida e uma longa existência!


Referência

*Carter, B., McGoldrick, M. As mudanças no ciclo familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 1995.

**Miller, Alice. O drama da criança bem dotada. São Paulo: Summus, 1997.



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